sexta-feira, 6 de novembro de 2009

8 - Eu te amo

Isabel chegou toda suja de terra do roseiral, com os cabelos cheios embaraçados e uma flor, presa a orelha. Atirei os diários de Cecília de volta para baixo da cama e fiquei preocupado que Isabel percebesse, pois fez barulho. Mas ela estava tão envolvida por seu entusiasmo, que nem notou.
- Venha ver o roseiral, como está lindo!
Estendeu a mão suja de terra para mim.
Guiou-me gentilmente até o jardim, subindo para o roseiral. Vendou-me com as mãos sujas e só parou com a brincadeira depois de me aborrecer.
Como as flores estavam bonitas! Fazia tanto tempo que Isabel não se dedicava à jardinagem, que eu até tinha esquecido que ela gostava disso.
Rosas brancas, amarelas, vermelhas, cor-de-rosa, chá. Dei a mão à Isabel e passeamos juntos pela imensidão florida.
Era a minha vez de fazer perguntas. Ler o diário de Cecília tinha me deixado cheio de questões e Isabel era minha principal fonte de respostas.
- Do que você tem medo, Bel?
Olhou para cima pensando na resposta. Isabel, diferente de mim, pensava muito bem no que ia dizer.
- De ficar sozinha. Perdi meu pai e minha irmã.Perdi minha mãe também, não por morte, mas pelos danos irrecuperáveis da distância e do tempo. Agora só me resta você e à todo instante acho que vou perdê-lo.
Toda a minha vida tive medo de ficar sem Isabel, pois foi sempre rodeada de muito amigos. Isabel era para mim, a pessoa mais corajosa do mundo. Não imaginava que ela temia algo, principalmente a solidão.
Tornei a pensar nos diários de Cecília. Tinham me despertado um turbilhão de emoções e dúvidas.
- Você ama, Isabel?
Foi difícil perguntar. A voz saiu pesada, com ar de confissão culpada. Acho o amor tão difícil de falar e questionar, achava que Isabel também pensava assim. De todos os sentimentos, ela tinha uma experiência para compartilhar, pois foi dotada de uma sensibilidade inexplicável, mas sobre amor... Nunca disse nada, nem sequer, que sentia.
- Mas é claro que amo.
Respondeu sem esforço, sem pensar. Parecia óbvio para ela.
- Como sabe que ama?
Isabe sabia de tudo, sobre todas as coisas. Devia saber isso também.
- Algumas coisas lançam a semente do amor dentro de nós. Como convivência, admiração. E outras coisas cultivam essas sementes, como carinho, companheirismo. E logo sentimos brotar aquela flor, que cresce e fica mais viçosa e bonita. Mas é preciso cultivá-la. Precisa de cuidados e atenção, como todas as flores. Senão murcha, e vira uma rosa seca dentro do coração.
Pareceu pensativa, será que ela tinha uma rosa seca dentro de si?
- Devemos dizer quando amamos?
Isabel escondia-se entre as rosas. Havia algo nela da mulher de batom vermelho da noite passada e havia também algo da menina que eu conheci. As duas se fundiam, e como era boa aquela junção!
- O amor não é um discurso, Téo. Não consiste em dizer que ama, mas em ações de amor. Amor é vivência, compartilhar. Andar por um jardim bonito, falando sobre os seus sentimentos, por exemplo.
Piscou os olhinhos amendoados e esses riram para mim cheios de carinho. Ela não disse nada, mas eu entendi. Arranquei uma rosa branca que estava perto de mim, estendi a Isabel. A flor do meu amor se fez presente, notei que à todo instante estava lá.
Eu te amo, Isabel. Pensei e senti.

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