domingo, 18 de outubro de 2009

6- Batom vermelho

Isabel me deixou na sala esperando, disse que tinha uma surpresa. Já fazia muito tempo que eu estava no sofá, olhando para o nada, esperando Isabel chegar com a tal surpresa. Quer dizer, não sabia se era muito tempo. Não tinha relógio, não tinha noção. Mas aquela espera ansiosa dava a impressão de cerca de quarenta minutos.
A tarde se despedia, de fora da janela. O mundo rodava fora das paredes, mas dentro da casa, da sala, tudo permanecia estático.
Isabel falou alto de dentro do quarto.
- Téo, feche os olhos.
Obedeci. O que será que ela queria?
- Pode abrir.
A voz soou mais próxima de mim.
Abri os olhos e estava Isabel na minha frente, com duas taças de vinho na mão.
Isabel tinha os cabelos ondulados soltos, um olhar diferente. Me estendeu uma das taças.
Olhei suas mãos, notei o decote do vestido, o seu colo, o colar no pescoço e na boca, em tom vibrante, um batom vermelho. Percebendo meu olhar de admiração, Isabel sorriu.
- Gostou?
Ficou mais distante para que eu pudesse observá-la. O vestido destacava a forma bem feita do corpo, o desenho da sua cintura, das suas costas e cobria as pernas, mas essas ficavam marcadas na seda.
- Você está...Diferente.
Isabel tinha um ar estranho. Onde estava a menina que chorava agarrada à boneca de pano? Estava tão mulher, tão madura e aquele batom vermelho...
O que estava fazendo? pensando? Que idade teríamos agora? Não conseguia entender sua mudança abrupta de comportamento.Estava perdido, confuso. Meus músculos tensos me tornaram imóvel. O que ela queria com isso?
De fato, era uma grande surpresa. Ainda assustado com a sua atitude e o olhar que agora me dirigia, mas encantado com a nova face de Isabel que se revelava para mim. Ela estava sempre me surpreendendo.
Segurou a taça delicadamente, sorvia o vinho tinto devagar.
- Diferente ruim?
Não sabia definir o que estava mudado, mas algo que eu nunca tinha visto, brotava dos seus olhos amendoados e quase castanhos. Não sabia explicar, não sabia entender, mas ruim não era. Estava hipnotizado. Não conseguia parar de olhar para os seus olhos, seu vestido e seus lábios tão vermelhos.
- Não. Diferente muito bom.
Sempre achei Isabel linda, mas nunca disse a ela. Contava a ela tudo que pensava, mas sobre isso nunca senti necessidade. Mas agora sentia, sentia muito forte o desejo de dizer a ela o quanto estava linda, o quanto era linda.
- Isabel...
Ela olhava para a janela pensativa, observando a noite chegar Se virou para mim e seu olhar me deixou zonzo, foi profundo. Aumentou a vontade que eu tinha de contar a ela o quanto era bonita.
- Você é linda.
A voz saiu leve e baixa, quase como um sussurro. Uma vergonha engraçada, uma sensação esquisita, mas precisava dizer. Sorriu satisfeita, sem a vergonha habitual que lhe corava as bochechas ao receber um elogio, Isabel sabia que estava bonita.
Levou a taça de vinho até a boca, acompanhei o movimento do gole. Ela não se incomodava com a minha observação, parecia nem notar.
- Téo, saberia definir o que é desejo?
Não sabia. Eu era muito ruim para definir sentimentos. Sentimentos estão dentro de nós, mexendo e brincando com as nossas ações, nossos corpos. Era difícil expressar em palavras o que nos acontecia. Acho que desejo era aquilo que eu estava sentindo olhando para Isabel. A vontade incontrolável de elogiá-la, a comichão e aquele desconcerto ´que eu estava só de olhar para ela, com aquela beleza toda.
- Acho que são vontades incontroláveis.
Balançou a cabeça um pouco, pensando na resposta. Eu, como sempre, não tinha certeza do que dizia, apenas respondia para dar, qualquer que fosse, uma resposta a Isabel.
- Discordo. Às vezes os desejos são controláveis.
Me olhou de novo daquele jeito fulminante.
- Acho que desejo é a vontade de não se controlar.
E riu da própria resposta.
Eu ainda hipnotizado acompanhava os movimentos dos lábios vermelhos de Isabel.
- Partindo da minha definição, já sentiu algum desejo muito forte, Téo?
Ela parecia entender o que acontecia dentro de mim melhor que eu, como se manipulasse as sensações que percorriam o meu corpo todo. Não sabia o que era desejo, não sabia o que era aquilo que me tomava ao olhar para ela.
Isabel estava tão diferente. Até eu estava diferente. Não conseguia me afastar na cena para assisti-la como expectador, não conseguia tirar os olhos dela nem responder suas perguntas.
- Acho que sim.
Falei rápido. Tentando evitar que Isabel percebesse as modificações em mim. Tarde demais, eu acho. Já escorregava no sofá e suava frio.
Estalava os dedos, o incômodo e a comichão.
Isabel parecia entrar dentro de mim com seu olhar e ler meus pensamentos, minhas sensações, o meu desejo.
- Eu acompanhei seu crescimento. Você passar de um menino magrelo a um homem. Barba, mudança de voz, vi você mudar. Mas acho que você nunca notou que eu virei mulher, não é, Téo?
Ela estava enganada. Eu notei sim. Notei desde que ela entrou na sala trajando o vestido longo de seda, usando aquele olhar malicioso de quem já cresceu. Notei no corpo marcado ela seda, no tom de voz arrastado e macio e no porte que ela tinha para carregar nos lábios um batom tão vermelho.
Não deixou que eu respondesse, continuou a falar.
- Mas não se culpe. Nem minha mãe, nem você, muito menos Cecília, que guardava na memória a lembrança de uma criança levada que corria a casa inteira.  Virei mulher dentro de mim, sem dizer ou mostrar a ninguém.
Ela não tinha ideia do quanto estava mostrando e do que me causava essa Isabel-mulher.
Bebeu o que restava de vinho na taça.
- Ah Téo, e eu te enchendo com as minhas tolices.
Não eram tolices. E mesmo que fossem. Estava tão bom ouvir a voz dela, acompanhar o movimento dos seus lábios, suas expressões. Eu nunca tinha visto Isabel daquele jeito e agora podia passar a noite inteira observando-a.
Mas se levantou antes que eu dissesse alguma coisa, pegou nossas taças secas do chão e levou até a cozinha. O corpo estava perfeito marcado na seda e observá-la me dava uma sensação de vertigem, estranhamente deliciosa. O batom vermelhou tocou meu rosto em um beijo. Tive vontade de dizer para ela não ir embora, não tive forças.
- Boa noite, Téo.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

5 - O quarto de Cecília

Vi Isabel me procurando no jardim, acho que ela tinha esquecido que o jardim era proibido na brincadeira. Estava distante e subia à caminho do roseiral.
A escada do quarto de Cecília me chamava, não sabia quanto tempo aguentaria estar dentro da casa e não entrar. Subi as escadas na ponta do pé e quase me esqueci de que Cecília não poderia estar. O quarto dela também estava do mesmo jeito. Recordava com clareza o dia que tinha entrado lá e tentei inúmeras vezes retratá-lo em minhas pinturas de diversas formas.
A cama grande e encostada na parede, o teto baixo. Diferente do resto dos quartos, a cama de Cecília mal tinha lençóis, era mais empoeirado que os demais e agora, todo ensanguentado. Olhar para as manchas de sangue no chão, no colchão, me causava arrepios, mas compunha mais um dos mistérios do quarto de Cecília. Nas paredes, fotos e imagens recortadas de revistas, poesias tristes escritas na parede com letra trêmula, nada parecidas com as paredes do quarto de Isabel, que eram muito bem pintadas e com papel de parede florido contornando tudo. Tia Inês tinha mania de organização, imaginei que se ela entrasse no quarto da filha daquele jeito teria um ataque, como tinha quando eu e Isabel deixávamos almofadas no chão. Mas como Cecília era um segredo, seu quarto era seu refúgio e maior tradução, portanto, inacessível. Até para Tia Inês, até para ela mesma.
Era como se o quarto fosse vivo, como se a presença dela permanecesse. Toda a angústia que carregava no peito, que transmitia para nós e que estava impregnada em tudo ali. Ao lado da cama, um baú. Abri com cuidado, com medo do que encontraria. Muitos cadernos, diários. Datados de muito tempo. Uns com letra de criança, outras mais formatadas. Acho que os diários acompanharam a vida de Cecilia como uma forma de descarregar o peso de sua alma, que parecia imenso.
Dentro do baú, algumas outras coisas. Fitas de cabelo, perfumes, livros, as coisas de Cecília. E eu fui me lembrando dela com aquelas coisas, da presença e fui sentindo-a perto de mim. Mais uma vez a carga de adrenalina que ela me causava.
Próximo à janela, uma escrivaninha. Dentro das gavetas, havia de tudo. Postais, selos, envelopes, como se preparasse muitas cartas. No armário antigo, não havia nada. Apenas poeira e algumas teias de aranha.
Era aparentemente um quarto normal. Mas a energia dentro dele não permitia que fosse comum, havia algo de excêntrico, de vivo e de morto. da presença de Cecília e todo o seu mistério.
Fiquei um tempo parado, imaginando a vida de Cecília. Seus hábitos, seus medos, seus pensamentos, o que ela fazia no tempo em que ficava no quarto?
O que pensava? O que queria? Foi embora dessa vida porque se encontrou ou para se encontrar? Que encontro era esse?
Cecília permanecia aquele mistério, mesmo agora que era só uma estrela brilhante que víamos do telhado. De repente quis acreditar nisso, para vê-la outra vez, ainda que fosse brilhando no céu.
Abri o baú novamente, peguei os diários. Eu precisava ler, precisava entende-la. Agarrei seus antigos cadernos e desci até o quarto de Isabel, pensando em onde escondê-los. Sem muita criatividade, escondi-os em baixo da mesa. Ela não ia olhar ali, eu sabia.
Ainda queria voltar no quarto de Cecília, eu teria outra oportunidade? E de novo essa coragem?
Que horas seriam? Quanto tinha passado no quarto de Cecília perdido em pensamentos, e há quanto tempo estávamos brincando?
Olhei pela janela, caía a tarde. Lembrei do relógio que ficava na cozinha, estava parado. Isabel tinha razão, tempo nessa casa era mesmo uma abstração. Onde ela estaria agora? Ainda me procurando pelo jardim?
Sem querer o jogo inverteu, saí à procura dela. Nem na sala, nem no quarto, nem no jardim. Será que ela estava se escondendo de mim agora?
De todos os cômodos só faltava a garagem, desci as escadas da sala e lá estava ela. Brincando com uma velha boneca de pano descosturada. Ouvi os soluços, Isabel chorava.
- Isabel?
Os olhos dela saltaram aliviados das órbitas.
- Tééééo!
Cooreu em minha direção e se jogou nos meus braços.
- O que houve, Isabel? Por que você está chorando?
- Ai, Téo. Te procurei pela casa inteira, não te encontrei. Fui à todos os quartos, corredores. Até no jardim, até no telhado, por todos os cantos da casa. Pensei que você tinha ido embora, me deixado perdida no tempo, nessa casa.
Secou as lágrimas, ainda fanhosa.
Acalmei seu corpo junto ao meu, acarinhando seus cabelos, beijei sua testa.
- Não faria isso nunca, não te deixaria jamais.
Suspirou aliviada, ainda no calor do meu abraço. Apesar de toda a confusão, da nostalgia, dos minutos conturbados que vivíamos dentro da casa, era bom ter Isabel perto de mim. Ah, como era bom aquele abraço!

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

4- Pique esconde

Deixei Isabel dormindo e fui fazer compras. Se íamos passar dias ali, era necessário comprar comida e outras coisas fundamentais. Passei também em casa, eu ia precisar de roupas. Entrei no carro e fiquei pensando em tudo o que tinha acontecido, tudo ainda parecia um sonho e eu tinha a impressão de que ia acordar no meu apartamento de Laranjeiras, achando que dormi demais.
Cheguei em casa e entrei para olhar Isabel dormindo. Sua expressão era bastante tranquila, descansada. Era bom que ela dormisse bastante.
Passei pela escada de Cecília e foi me dando uma vontade de entrar, aquela descarga de adrenalina no meu corpo. Se eu tivesse mais coragem...
Mas se nem Isabel ousava remexer essa parte da casa, imagine eu! Voltei para a cozinha para arrumar as compras , queria fazer a mesa de café da manhã da nossa infância. Tia Inês lotava a mesa de coisas gostosas antes de ir trabalhar, e nós que sempre acordávamos tarde, ficávamos horas comendo e fazendo palavra cruzada. Fiquei rindo sozinho das canecas penduradas, lembrando que nós adorávamos mudar a ordem só para irritar tia Inês, como os meninos levados que éramos.
Percebi que Isabel me observava encostada no vão da porta, com os longos cabelos bagunçados e a expressão de quem ainda tem sono. Ao ver que ela me olhava, corei as bochechas e tornei a ficar sério.
- Devia sorrir mais vezes, Téo. Fica mais bonito.
Me beijou a bochecha, fazendo barulho e se sentou ao meu lado.
 - Estou faminta. Onde arranjou tudo isso?
- Surpresa!
Os olhos de Isabel sorriram de um jeito pleno. Eu adorava fazê-la feliz. Qualquer esforço era recompensado pela alegria dela.
Isabel devorava um muffin de chocolate com voracidade e seus olhos brilhavam de gula ao olhar para tudo que ainda restava na mesa.
- Não precisamos comer tudo hoje, Bel.
Me deu um tapinha no braço e enfiou o que restava do muffin, e de boca cheia resmungou
- Não tem graça!
- Isabel, lembra quando tomávamos café da manhã aqui e brincávamos de forca? às vezes nos divertíamos tanto que ficávamos para o almoço.
Isabel quase se engasgou com o muffin que mastigava e começou a rir, batendo palmas.
- Téo, qual é a sua lembrança mais forte nessa casa? Qual era a coisa que você mais gostava?
Tantas coisas passamos, tantas coisas eram especiais, de tudo eu gostava. Quanto tia Inês saía, nós brincávamos de pique esconde, só nós dois. E Isabel realmente demorava para me encontrar, tanto que eu ficava com saudade dela.
- Das brincadeiras de pique esconde.
Seus olhos saltaram
- Se nós brincássemos de pique esconde agora?
- Já somos velhos para isso.
- Podemos ser velhos agora, mas aqui você escolhe a idade que quer ter, e teremos.
Fiquei ainda algum tempo na mesa, e Isabel se levantou. Fiquei olhando-a entrar no quarto e fechar a porta. O andar alongado e delicado, como se nem pisasse no chão.
Seria bom andar pela casa. Será que o quarto de tia Inês continuava do mesmo jeito? E a biblioteca? As milhões de gavetas do escritório...
Minha imaginação voou solta pela lembrança que eu tinha dos cômodos da casa.
Isabel voltou trajando um vestdo curto e sol, amarelo, com uma trança nos cabelos. Veio saltitando em minha direção.
- Pronto? Eu conto. Mas não vale no jardim nem no telhado. Se não, não nos encontraremos nunca mais.
Sorriu achando graça.
Foi em direção à parede e vendo que eu continua parado, resmungou impaciente:
- Vou começar a contar, hein?
Continuei estático na mesa ainda posta.
- 1, 2, 3...
Contava alto para me convocar à brincadeira.
Resolvi me mexer. Fui em direção ao corredor, todas as portas fechadas. Eu temia tanto aquele corredor! Isabel dizia que seu pai vinha visitá-la exatamente ali. Ela não tinha medo, mas eu sempre fui covarde. Mesmo com vontade de rever o tio Vicente.
Entrei no escritório tomando cuidado para não fazer barulho, aquelas portas de madeira rangiam demais. O escritório estava mais bagunçado que nunca. Papéis espalhados por todos os cantos, gavetas abertas, poeira. Na mesa, o portarretrato com a foto da família. Tia Inês à direita, com os cabelos compridos e tingidos, com um sorriso sincero e um vestido que lhe caia muito bem. Como era bonita na juventude! E eu nunca tinha notado. À esquerda Tio Vicente, com a barba grisalha  e a inseparável vara de pescar. Nunca soube responder com que ele trabalhava, só sei que pescava aos fins de semana. Tia Inês acarinhava os cabelos de Isabel, uma menina levada que fazia careta para a foto. Cecília ao lado do pai, sorria tristemente. Os cabelos muito curtos, o olhar distante. Olhava para a foto, mas via muito além. Aquela necessidade de se encontrar. Será que nós nos encontramos em algum momento da vida? Ou diferente de Cecília, não pensávamos naquilo.
- Lá vou eu!
Ouvi Isabel gritar, seus passos andando pelo corredor. Não queria ser encontrado, não agora, mal tinha adentrado o primeiro quarto.
Entrei devagar do armário do escritório. O cheiro de mofo e a enorme quantidade de poeira me faziam querer espirrar, mas eu tinha que me segurar enquanto Isabel passava por ali.
Abriu a porta fazendo barulho.
- Ah, não está aqui!
Cantarolava enquanto andava pelo corredor. Esperei ela passar para sair do armário empoeirado. No escritório não restavam muitas coisas. Tia Inês tinha se desfeito de quase tudo quando tio Vicente morreu. Muitas pessoas consideraram desapego, mas a verdade é que doía demais arrumar o cômodo e sentir a presença do falecido marido.
Era hora de passar para outro quarto. Olhei em volta e vi que Isabel não estava.
Entrei de rapina no quarto de Tia Inês. Tinha cheiro de naftalina. A cama alta, a roupa de cama muito velha e amarelada, a penteadeira com muitas jóias e perfumes antigos. Ela não tinha levado nada à Arraial do Cabo?
Quando Tia Inês saía, vínhamos ao seu quarto para pular na cama. Se ela sonhasse com aquilo!
Abri a gaveta de Tia Inês, lá estavam duas cartas. Abri o primeiro envelope, um bilhete de tio Vicente.
"Adorada Inês,
Viajo agora deixando contigo parte de mim, mas saiba que será curto o tempo em que ficaremos separados, e que pensarei em você à todo instante.Dê beijos nas meninas e pergunte à Isabel o que quer de natal, sem que ela perceba.
Uma atenção especial à Cecília, ela me parece melancólia demais.
Com amor,
Teu Vicente."

Dobrei a carta e pus de volta no envelope. Ler aquilo me fez sentir falta do velho tio Vicente, com a barba grisalha e as histórias sobre barcos e sereias. Quando ele morreu, eu era ainda um moleque, mas me recordo com clareza de sua gargalhada e do seu cheiro de maresia.
O outro envelope era um cartão postal da Bolívia, de Cecília.
"Mãe,
Ainda não penso em voltar para casa, mas não se preocupe, estou bem.
Cecília."
Não tínhamos contado à Tia Inês o ocorrido, imaginei como ela ficaria abalada. Não quis mais pensar nisso, saí do quarto. Isabel estava na sala, corri com cuidado até a biblioteca, me escondi entre as estantes.
A biblioteca era proibida, só Cecília podia entrar, nós nunca entedemos porque.
Isabel chorava como uma criança dengosa dizendo que aquilo era por preferência pela irmã. Cecília era distante de nós, sempre intocável, tinha o costume de estar sozinha, nós nunca podíamos estar onde ela estava.
Passei um pouco pelas estantes, sentido o cheiro de antigo dos livros.
Quando se completa a idade necessária para ver um filme com censura, a gente se sente grande, capaz, tendo acesso ao proibido. Era a mesma sensação.
A biblioteca que nos era proibida, era agora toda minha. Romances, enciclopédias, antologias poéticas. Eu seria capaz de passar a vida inteira ouvindo Isabel ler todos aqueles livros para mim, sem me cansar.
Ouvi Isabel se aproximando, escapoli. Fui olhando para trás, preocupado em não chamar atenção, em não ser visto. Tombei em um degrau e quase caí, me deparei com a escada de Cecília.

domingo, 4 de outubro de 2009

3 - Boa noite

Entramos de novo na sala. Sujos, molhados, exaustos. Exatamente igual quando éramos pequenos. Isabel largou a cesta de amoras na cozinha e abriu a porta do seu quarto.
O quarto de Isabel era como uma casinha de bonecas. Papel de parede com flores, cortinas azuis, quadros de pintores renascentistas, bonecas de porcelana. Era o lugar onde menos ficávamos, só quando tinhamos que dormir.
- Veja só, Téo. Esse lugar parou no tempo.
Eu pensava o mesmo, ainda tudo da mesma maneira. No criado mudo ao lado da cama, um bilhete meu, com letra de criança.
"Bel, você é minha melhor amiga.
Téo"
Na estante de livros, nossos preferidos. Nós íamos ler no jardim. Isabel lia alto para eu ouvir, pois sempre teve uma dicção perfeita e eu sempre fui preguiçoso. Gostava das histórias, de imaginar, mas passar os olhos pelas palavras me desagradava.
- Vou tomar banho, fique aqui.
concordei com a cabeça.
Era sempre assim. Isabel ia tomar seus banhos demorados de mocinha e eu ficava no quarto dela, procurando com o que me entreter. era um quarto de menina, mas eu sempre achava alguma distração. Afinal, eu e Isabel passamos a vida juntos e eu descobri e aprendi tudo com ela. Se as paredes tivessem ouvidos, como dizia Tia Inês para que não ficássemos cochichando a noite inteira, aquele quarto saberia tudo sobre nós.
Passavamos o dia entre uma brincadeira e outra, e quando íamos dormir confessavamos nossos pensamentos, nossas dúvidas, as coisas que imaginávamos. Eu sempre fui o mais medroso e Isabel, a dona das respostas. Mas vez ou outra ela me consultava sobre algum assunto e eu dava uma resposta, só porque não achava justo ficar calado, e ela acreditava com muita força no que eu dizia. Eu ficava orgulhoso de ter tanta credibilidade para Isabel, e nunca entendi o  porquê.
Abri a gaveta de Isabel, lá estavam desenhos, prendedores de cabelo, cadernos da época do colégio.
Isabel não era muito boa aluna, passava a aula de fofoquinha com as amigas, enquanto eu que era mais sozinho, me dedicava mais aos estudos. Bel queria ser atriz, e sempre disse que matemática não lhe serviria. Isabel é uma boa atriz, de fato. Mas mal sabia ela, no auge dos nossos dezessere anos, o rumo que a vida traria para nós.
A chuva ainda caía lá fora, o carnaval ainda corria na rua, mas nós não estávamos no mundo. estávamos em casa, protegidos e guardados pelos anos que moravam ali dentro, protegidos por nossos próprios fantasmas, nossas recordações, os vultos distantes que na casa eram vivos, parte de nós.
Isabel interrompeu meus pensamentos abrindo a porta de madeira, fazendo barulho, trajando a antiga camisola. Cor-de-rosa, com flores, cheia de babados. Os cabelos compridos e molhados ao longo das costas. Por alguns segundos, me esqueci de tudo que tinha acontecido, voltei no tempo. Isabel era a mesma menina e eu ainda o mesmo Téo.
- Quanto tempo não vestia isso. Tinha me esquecido a sensação de algodão antigo tateando a pele.
Me deu um meio sorriso.
Deitou na cama, se esparramando. O lençol tinha cheiro de guardado, de antigo. Era tudo muito empoeirado e faria mal as minhas alergias. Mas quem se lembra de alergias quando se trata da alma?
- Reparou que a chuva cessou, Téo?
- Nem tinha me dado conta.
Se levantou abruptamente, ficou em pé na cama para alcançar o armário. Isabel era pequenininha, bem menor que eu, e isso a deixava antiga mais graciosa, pois conservava nela o ar de menina. Puxou com esforço uma caixa pesada. Eu me lembrava daquela caixa, só não conseguia lembrar o que se guardava ali dentro. Puxou com eforço a luneta.
Claro, como pude me esquecer? Enquanto morou aqui Isabel foi apreciadora exímia do céu, gastava às vezes um dia inteiro observando. Especialmene à noite, pois adorava as estrelas e lua. Hábito que herdou do pai.
- Ainda tem medo de subir no telhado?
Eu tinha.
- Tenho.
- Mas faria por mim?
- Qualquer coisa por você, Isabel.
Me deu a mão.
Subiu na mesa que ficava em baixo da janela.
- Eu vou primeiro.
Disse para me aliviar.
pôs os pés na janela e se agarrou nas telhas, em um pulo estava no telhado.
- Agora me passe a luneta e suba.
Gritou comandando.
Assim fiz, como ela orientou. Isabel era sempre a cabecilha, coordenava toda as brincadeiras. Iventava, mandava, dizia como tinham que ser. E era a primeira a se aventurar, como se tivesse que me proteger. Agora estávamos os dois lá em cima, eu contendo meu meu medo de altura, e Isabel como se alcançasse o apse da realização, trançando os cabelos, como se tivesse encontrado a paz.
- Relaxa, Téo. Não há como aproveitar a vista se ficar nessa tensão toda.
Segui seu conselho e me deitei nas telhas como ela, segurando sua mão, me dava segurança.
- Téo, você acredita em Deus?
- Não.
Respondi rápido, sem pensar muito no que ela perguntava.
- E quem você acha que fez tudo isso, que controla esse céu, que cuida do meu pai - suspirou mais fundo- e de Cecília?
- Não sei, Isabel.
Ficava meio impaciente quando ela me perguntava essas coisas. Tem certos pensamentos que doem. Me contestar sobre a existência de Deus foi algo que nunca fiz. Tive formação religiosa, mas com o tempo fui perdendo a crença em tudo. Era mais fácil responder que não acreditava mecanicamente, sem ter que pensar nessas coisas.
- Téo, você mentiria para mim?
- Ah, Isabel, que tolice é essa agora? você sabe que eu não minto para você.
Ficu um minuto em silêncio, olhando as estrelas na luneta, quando olhou para mim, com um olhar profundo e indecifrável.
- Quando meu pai morreu, subimos para olhar as estrelas. Eu chorava sem parar pois pensava que nunca mais o veria e que onde estava agora, não havia ninguém para cuidar dele. Entregar seu leite quente antes de dormir, levar o jornal até sua cama, cantar canções para que ele dormisse, ouvir as mesmas histórias todas as vezes que ele quisesse contar. Você então me disse que eu não me preocupasse com isso, que meu pai viraria uma estrela e seria a mais brilhante que eu conseguisse ver e que Deus enviaria anjos para cuidar dele por mim. Era mentira?
Quando Isabel se sentia angustiada com alguma coisa, eu precisava de todo jeito arranjar uma forma de deixá-la mais calma. Pois Isabel era a paz para mim e se ela estava angustiada, era ver meu mundo entrar em guerra. Talvez por uma questão até de egoísmo, eu precisava ter Isabel contente. Ela me trazia a resposta de todas as coisas do mundo, e eu quase nunca lhe era útil. A não ser em momentos de extrema aflição como hoje e aquela outra noite no telhado.
- Crianças não sabem o que dizem, Isabel. Creem em tudo.
Vi uma lágrima escorrer dos seus olhos.
- As coisas simplesmente deixam de existir ou nos tocamos de que elas nunca existiram realmente?
Perguntou ingênua.
- Acho que percebemos que era tudo fantasia infantil, uma forma de explicar o que era sem explicação e aplacar dores que eram grandes demais para o coração de criança.
Soltou minha mão devagar.
- Téo, então só por hoje vamos ser crianças? Para que pelo menos, essa noite, os anjos cuidem do meu pai - suspirou fundo outra vez- e de Cecília.

sábado, 3 de outubro de 2009

2- O Jardim

O Jardim estava bonito, apesar da grama alta que cobria nossos pés. A chuva tinha feito bem às flores e as folhas, bem verdinhas e vivas. De novo olhei a cena de fora. Isabel passeando por seu jardim distante da realidade que ela tinha que enfrentar, como se não pensasse mais em tudo que tinha acontecido. Procurava as melhores amoras e as depositava em sua cesta e quando notava minha observação, jogava amoras em mim como fazíamos quando éramos pequenos para irritar um ao outro e nossas mães, claro, por ficarmos todos sujos.
O jardim também tinha sido todo nosso. Guardava tantas brincadeiras! Corríamos pro ele com Bóris atrás de nós , nos sujavamos todos de amora e ligávamos a mangueira com a desculpa de aguar as plantas, mas só mesmo para ficarmos encharcados. Cecília também costumava ir ao jardim, mas nós não íamos quando ela ir. Isabel não era de explicar demais, só dizia que Cecília gostava de ficar sozinha. E enquanto Isabel ia se bronzear ao sol, eu ficava escondido observando Cecília no jardim.
era quando ela ficava mais bonita, entre as flores. Levava um livro ou ficava escrevendo. Quando fazia sol, só deitava na grama e ficava de olhos fechados. Queria tanto saber o que ela pensava, como era a vida dela. O mistério todo que ela guardava...
Quando ela voltava de madrugada para casa, também ia ao jardim. Esperava acordado a hora dela voltar, me preocupava. Vez ou outra eu mesmo a carreguei até a sala, ou a porta do quarto, mas gostava mesmo era de ver o que ela ia fazer. Voltava tonta, acompanhada por amigos que a deixavam aqui e iam embora. Muitas vezes tomava remédios para dormir, e eu ficava com vontade de abraçá-la e não podia, porque Cecília foi sempre aquela coisa intocável.
Começou a cair um chuvisco fraco, daqueles que gripam a gente.
- Isabel, vamos entrar? Está chovendo.
- Mais um motivo para ficarmos. Você se importava com sereno quanto tinha nove anos?
Me sorriu.
Se jogou na grama. A água da chuva que molhava seu rosto fazia transparecer um pouco na essência alegre natural de Isabel.
- Qual foi a última vez que você foi feliz, Téo?
Feliz... Qual tinha sido a última vez que fui feliz? Poderia dizer que tinha sido ontem, que estava, que nunca fui, porque o fato é que eu nunca tinha parado para pensar no que, de fato,era felicidade.
Caia do céu aquela chuva fina e eu fiquei tentando me lembrar a última vez que tinha tomado um banho de chuva espontaneo. foi no último carnaval que vivi, porque todos os outros apenas assisti da minha janela.
Eu e Bel éramos ainda garotos. Eu tinha acabado de completar dezoito e ela ainda faria no fim do mês.
Isabel fez questão de que´nós saíssemos em todos os blocos. Era nosso último dia de carnaval, algo próximo das dez horas da noite e estávamos desde de manhã de bloco em bloco, correndo atrás de bonde e estandarte. Na ladeira mais estreita de Santa Teresa, começou a tocar "Máscara negra" e o bloco subia sem parar. As pessoas pulavam, sambavam, cantavam, ninguém parava um segundo sequer e eu sendo empurrado por aquela massa de gente.
Alguns trovões de aviso e do céu desabou um temporal. A multidão carnavalesca comemorou porque tudo em tempos de carnaval é poesia, é beleza. Olhei para Isabel e lá estava ela, tão linda... Com seu melhor sorriso de felicidade mais pura. Ali fui feliz. Como nunca mais fui. E guardei aquela lembrança bem escondida na minha gaveta de boas recordações.
- No meu último carnaval.
suspirou profundamente, como quem sente saudade.
- E o que é felicidade para você, Téo?
Pensei de novo no episódio do carnaval e no que tinha feito dele o mais feliz.
- É estar em um temporal, rodeado por uma multidão desde o nascimento do sol, com tambores te ensurdecendo e achar que é poesia.
Virou o rosto delicado para mim.
- Ai, Téo.. você fala e parece filme!Sente falta dos nossos carnavais?
- Sinto falta da nossa felicidade.
Deitei a cabeça em sua barriga, sentindo a chuva cair.
- Acha que ainda há tempo, Bel?
- Dentro dessa casa, o tempo é uma abstração.
Sua voz era um sussurro, mas me passava credibilidade.
Começou a correr pelo jardim, de um lado para o outro, eu ainda deitado na grama, sem a força que Isabel tinha para tentar ser feliz.
- Lembra quando eu disse que queria ser um passarinho?
Isabel tinha cada lembrança...
- Você toda semana queria ser uma coisa diferente.
- sim, mas lembra quando eu disse que queria ser  um passarinho?
Que relevância tinha isso? Murmurei em sentido positivo. Caiu por cima de mim.
- Ainda reservo essa vontade em segredo, mas não diga a ninguém.
Isabel era uma menina. Isabel ainda era uma menina.e a sua meninice me salvava da mediocridade do mundo.
- Téo, se pudesse ser outra pessoa, quem seria?
- Não sei, talvez o Mauro, nosso professor de química do ensino médio.
Sorriu achando graça.
- Bem escolhido. Boa cabeça, bom físico, tem o fusquinha mais rodado de Santa. eu seria sua amiga se você fosse o Mauro.
Respondeu em tom de brincadeira.
Sentou com as pernas cruzadas e as maõs no queixo. Estava inquieta, mudando a todo instante de posição.
- Eu seria a Isabel dos carnavais. A Isabel que assumo como verdadeira nos dias de folia. a que digo que sou para os desconhecidos, a que controla minhas atitudes até quarta feira. Ela se parece comigo, só que é bem mais legal...
- Mas é mentira!
- Como mentira? Se vive em mim, se me controla e toma conta dessa Isabel sem graça de todos os dias comuns. É que no carnaval, Téo, somos quem queremos ser e não quem realmente somos.
- Mas é fingir!
- Fantasiar, Téo. e por que não? Não se trata de fingir mas de deixar fluir outros lados que moram em nós, mas que normalmente são ocultos por causa das nossas personalidades de rotina, personalidade que somos obrigados a ter pelo nosso cotidiano. Carnaval é isso, e é por isso que dá alegria.
beijou minha bochecha com delicadeza. E cortando qualquer possível pensamento meu de oposição, perguntou com rapidez.
- e se pudesse ser alguma coisa desse jardim, qual seria?
- O portão.
- Ora, Téo. com tanta coisa bonita por que logo o portão?
- Ele é o que permite a entrada a todas as coisas bonitas e assiste tudo o que acontece aqui. Acompanha toda essa beleza e tudo que é vivido, ele está sempre velando a vida do jardim. E você seria una árvore, adivinhei?
- Uma árvore? Deve ser chato ser uma árvore! eu queria ser uma borboleta. Ela está sempre deixando tudo mais bonito. Antes é uma lagarta e depois que vira uma borboleta, com toda a graciosidade e encanto, tem apenas vinte e quatro horas para viver. Mais vale um dia só intenso do que uma longe vida mansa.
Isabel sempre foi assim, intensa, vivendo cada dia com vigor, dando o máximo de si. Nunca entendi como aguentava minha calma quase preguiçosa de viver. Eu espero acontecer, Isabel não. Ela vai atrás dos acontecimentos.
- Isabel, já começa a escurecer. Vamos entrar?
- Vejo que não perde o medo de escuro. Mas vamos sim, que já estou com frio e farta dessa fantasia,preciso de um bom banho quente.

1 - A Notícia

Fazia frio. A chuva e a neblina transformavam a vista da minha janela em apenas um vácuo branco. O moletom velho, o chinelo, a barba por fazer. O carnaval pegava fogo nas ruas. As pessoas todas fantasiadas pulavam sem se importar com a chuva ou o frio, mas para mim, os únicos vestígios de carnaval eram os blocos que vez ou outra passavam por aqui e faziam barulho, interrompendo minha solidão silenciosa.
Iria preparar um chá, ver mais um dos filmes antigos e já vistos. Quem sabe aproveitar esse dia tão enfadonho para arrumar minhas gavetas, meu quarto, ou a cozinha. Desde que me mudei para essa casa. Tão grande, tão distante, fico me sentindo assim...
É como se houvesse nesses quartos ou corredores a falta de alguém. E não é possível. Todo o tempo foi assim, só eu e o velho Léo. Bom gato e companheiro. Mas sinto algumas vezes, que até a ele incomoda meu silêncio de sempre. Acho que nem para o meu gato sou boa companhia.
O chá fervia no fogo. Eu me encolhendo de frio, tentava me lembrar o que havia me feito tão triste. Nos últimos anos, a minha vida era sempre a mesma insatisfação. Sobrevivendo do que me foi herdado e vendendo à cada dois verões um quadro. Poderia ser meu fracasso profissional, a distância dos meus familiares. Eu, um homem de poucas palavras e poucos amigos, me via agora em um profundo vazio.
Pensei nos amigos me restavam. Só vi Isabel. Senti falta dela e da sua voz conselheira me dizendo que não era certo alguém tão jovem se trancafiar a essa vida fria. Onde Isabel estaria agora? Provavelmente pulando carnaval por aí,se fantasiando, indo de bloco em bloco.Ah, sim, ela sempre gostou dessa folia!
Isabel foi feita de uma alegria inabalável. Um sorriso que transcendente, uma paz dentro de si. Fico me perguntando de onde ela tirou forças para ser assim.
Voltei a olhar para o chá, fervia. Do lado do fogão a goteira fazia barulho quando a água pingava no balde, e era só o que eu podia ouvir. Com o chá fumaçando fui até a janela, ver o bloco passar de longe.
Aquele cortejo brincante, barulhento e lindo me fazia bem. Era bom olhar aquela alegria, ver aquilo tudo de cima, como um mero expectador do espetáculo que é o carnaval. Acho que na vida fui sempre assim, um expectador. Fico vendo as coisas acontecerem de longe. Não sou nada mais que isso: Permanência e observação. Por isso pinto. Fico vendo as pessoas viverem suas vidas, seus momentos, seus sentimentos. Sempre de longe, sempre neutro. Não retrato nada de mim pois sou apenas essa casca oca sem nenhuma emoção maior. Retrato o mundo à minha volta. As pessoas e como elas me fascinam, a vida em que parece que estou sempre alheio.
Puxei o cavalete com a tela ainda em branco para mais perto da janela, para imortalizar o "meu" carnaval.
O celular tocou. A foto de Isabel sorrindo com um girassol no cabelo, no dia em que fomos à Itaipava. Por um instante hesitei. Pensei em não atende-la. Ia me convidar para uma de suas programações carnavalescas e ia acabar me convencendo porque Isabel tinha mesmo esse poder de persuasão, e eu realmente não queria sair de casa hoje. Mas no fim das contas, sempre atendo.  Não tenho coragem de ignorar minha única amiga restante.

- Olá, Isabel.
- Oi, Téo. Preciso de você.
A voz de Isabel tinha um nó, algo que eu não conseguia definir, mas era diferente de toda voz que eu já tinha escutado dela, contrariando a alegria constante da qual era feita.
- O que aconteceu?
- Pode vir até minha casa? A casa dos meus pais, se lembra?
- Lembro, estou indo.

Desligou sem dizer nada. Algo de muito errado acontecia. Meus olhos se encheram de lágrimas sem saber o porquê. Não pensei muito, não troquei de roupa. Apenas larguei o pincel da mão e corri até o carro. Era preciso entender o que estava acontecendo.
Ainda lembrava o caminho da casa de Isabel, era óbvio. Tinha passado toda a  minha infância e adolescência frequentando aquela casa enorme em Santa Teresa. Meu pai e o pai de Isabel eram antigos amigos de pescaria. Morávamos em casas vizinhas em Arraial do Cabo, e quando nossas famílias decidiram vir para o Rio, o pai de Isabel já estava muito doente e em poucos meses faleceu.
Nós ainda éramos muito pequenos para entender a morte, e acho que nunca crescemos para isso, mas desde então, Isabel e eu nos tornamos mais do que amigos, companheiros inseparáveis de vivências e aventuras. Nossos pais foram muito ausentes durante todo o nosso crescimento, mas tivemos um ao outro em todos os momentos, em todos os mistérios que a vida nos apresentou, fossem eles grandes como a perda de um ente querido, ou como transformar a sala de estar no nosso parque de diversões.
A casa de Isabel tinha cheiro de brincadeira e novidade. Por mais que passássemos todos os dias de nossas vidas, ainda tinham muitas coisas para ver e conhecer. Gostávamos de subir no telhado para ver as estrelas, ou passar o dia nos molhando com a mangueira no jardim, nos pendurando no tecido que ficava preso ao teto da sala, fazendo estripulias até tia Inês mandar a gente parar. Mas de modo geral, não parávamos. Arranjando mais uma série de coisas a fazer.
Todos os quartos da casa ficavam sempre com as portas abertas, eram convidativos, menos o quarto de Cecília, irmã mais velha de Isabel. O quarto dela ficava no andar de cima, e ninguém podia entrar . E talvez por isso, fosse o cômodo mais interessante da casa. Cecília era um vulto, quatro anos mais velha, a distância exata para ser inatingível.
Cecília me fascinava, foi minha paixão de adolescência. Minha paixão platônica que não se desenvolveu nem jamais cessou. Às vezes, até hoje penso nela, no suspense que ela era, naquele jeito diferente de toda pessoa.
Isabel era linda, ainda é. Possui uma beleza medida, no ponto exato de tudo. A pele branca, os cabelos ondulados e escuros, atingindo a metade das costas. Os olhos amendoados e um olhar fulminante. As expressões bem feitas e o sorriso preenchido de toda a alegria. Cecília era diferente. Cortava os cabelos curtos, estava sempre tingindo de todas as cores, tinha uma vaidade diferente, ou talvez nem tivesse. Enquanto Isabel reservava um jeito delicado e romântico ao se vestir e se portar, Cecília era o mais incoerente possível. Isabel era indiscutivelmente mais bonita. Mas sem aquele mistério.
Em todos os anos que frequentei a casa de Isabel. Tantos cafés da manhã, almoços, jantares, poucas palavras troquei com Cecília e somente uma vez entrei no seu quarto, no meio de uma madrugada, quando ela não estava e Isabel dormia profundamente.
De todas as formas que imaginei o quarto de Cecília, ele conseguia ser ainda mais interessante. Poesias escritas na parede, quadros, imagens, tudo meio bagunçado, mas como se as coisas estivessem todas devidamente em seu lugar. Encostada na parede, uma cama grande e baixa, os sapatos espalhados pelo chão, fotos tremidas em portarretratos, pouca coisa se entendia. Garrafas secas de bebida, pedaços cortados de cabelo, tintas abertas. Era como um mundo novo, um mundo todo dela. E o seu quarto foi para mim, até hoje, sua maior tradução.
Cecília estava sempre na rua, sempre entrando e saindo com os mesmos amigos esquisitos. Nunca falavam comigo e o máximo que ela me dirigia era um sorriso tímido e vazio. Havia algo nela de melancolia que não ia embora nunca. Estava constantemente nos seus olhos aquela sombra de dor. E como se Isabel fosse seu extremo oposto, era toda felicidade e transparência.
Passando pelas ladeiras de Santa teresa, fiquei me lembrando de como era gostoso descer tudo aquilo com Isabel para comprar balas, ou ir buscar alguma coisa no mercado quanto Tia Inês precisasse. Como era bom soltar o controle da bicicleta e deixá-la descer sentindo o vento no rosto. E quando ainda éramos pequenos demais para acompanhar os blocos, nos fantasiávamos e íamos pelas ruas cantando marchinhas. Tantas coisas vividas!
Isabel se mudou cedo de casa, logo depois de Cecília. Conseguiu ser independente e lidou muito bem com a ausência dos pais e falta de estabilidade na vida. Rápido trabalhou e pôde se mudar. Desde que era uma menininha com tranças quase arrastando no chão, dizia que não se sentia bem na casa dos pais. Fazia muito tempo que Isabel não não voltava lá, muito tempo que ela nem mencionava a casa dos pais. O que fazia ali e daquele jeito?
Fui vendo o muro da casa de Isabel e foi me batendo uma emoção estranha. Uma nostalgia, afinal, a minha vida estava guardada por aquela casa. À porta da casa estava Isabel.
Vestida e maquiada de colombina, aparentemente pronta para mais um dia carnavalesco. Mas nos seus olhos uma expressão enigmática.
Parei o carro na frente da casa. Ela pareceu não se importar com o que eu vestia. Correu até meus braços e me abraçou muito forte, o mesmo abraço do velório do pai. De repente, o nó que estava em sua garganta no telefone mais cedo, se desfez.
- Cecília Morreu.
E desatou a chorar.
Depois que Cecília saiu de casa, tomou o mundo afora. Estávamos na sala reunidos, assistindo "Hair". Já era clássico assistirmos eu, Isabel e Tia Inês aos fins de semana. Ouvi os passos de Cecília descendo as escadas de seu quarto, eu sempre ficava tenso, uma descarga de adrenalina possuia meu corpo todas as vezes que isso acontecia. Cecília tinha uma mochila nas costas e apenas disse que ia embora para sempre. Ouvi-a dizer algo à Tia Inês sobre precisar se encontrar. Tia Inês correu com Cecília para o jardim e ficaram conversando até escurecer e nós apenas ouvíamos os gritos de Tia Inês. Quando chegou a noite, tia Inês voltou com lágrimas nos olhos e mandou Isabel ir se despedir de Cecília. Não fui, mas fiquei vendo da janela ela entrar no ônibus com a mochila nas costas, e desde então, o máximo de contato com Cecília era através das cartas e postais que ela mandava para Isabel.
De novo a descarga de adrenalina de tempos atrás quando encontrava Cecília. O que estava acontecendo?
Isabel parada na casa dos pais, com aquela voz estranha, aquele abraço apertado que ela só usava em velórios e outros dias muito tristes e aquela notícia sem explicação.  Tal assombro me fez empalidecer.
- Como, morreu?
Isabel não conseguia dizer nada. Segurava-me forte ainda, soluçando. Apertava meus braços com muita força, como para aliviar a falta que pesava dentro da sua alma. Fiquei abraçado à Isabel, sem solta-la, com ela encostada em meu ombro, ouvindo a batida alta e forte do seu coração machucado em um silêncio ensurdecedor, até Isabel me entregar uma folha de papel meio amassada que tirou de dentro da fantasia.
Tremendo abri o papel:
"Ainda preciso me encontrar.

Cecília."

Isabel me puxou para a calçada, sentamos. Respirou fundo para criar forças.
- Eu já estava pronta para sair quando Cecília me ligou e disse que estava na casa da mamãe, que tinha parado de viajar para sempre e que queria me ver. Eu disse que estava de saída, mas ela pediu para que eu viesse vê-la ainda hoje, insistiu na urgência e disse que a chave estaria no mesmo esconderijo de sempre. O tapete à porta de casa.
Respirou mais fundo.
- Entrei em casa ansiosa, gritando por Cecília. Queria muito vê-la depois de todos esses anos. Corri até seu quarto e lá estava ela...
Abracei Isabel mais forte, mas ela escapou dos meus braços. Precisava respirar.
- Cecília se matou, Téo. Cortou os pulsos com aquela velha tesoura que cortava os cabelos. Lembra?
Desatou em um choro desesperado mais uma vez.
- Será que eu demorei? O que ela queria me dizer? Eu poderia ter impedido? Me desculpa, Téo. Eu não queria te incomodar, mas é o único a quem posso recorrer.
Aquela confusão ainda estava dançando em minha mente. A ficha de algumas coisas demora mesmo a cair. Aquilo era ainda mais complicado porque minha única e verdadeira fonte de alegria se derramava no choro mais sofrido que eu já tinha visto e precisava tanto de alento, tanto de mim. E a história toda ainda procurando fazer sentido na minha cabeça.
Olhei de novo para ela, dessa vez tentando me abster da história, de novo como o simples expectador que sou, e fiquei assistindo a cena. Aquela colombina de maquiagem borrada, sentada naquela calçada com o fundo no muro verde e a copa das árvores aparecendo. Aquele olhar triste, aquela tristeza toda... Tristeza que eu só vi igual na própria Cecília, embora nunca a tenha visto chorar e por mais incrível que pareça, estava sempre rindo, conseguia ter naquele sorriso enorme abismo de tristeza.
Me dei conta mais uma vez de como Isabel era bonita. O Cenário e toda aquela emoção ajudavam, mas era tão bem feita...Não havia nada de errado, nada de mais ou de menos, era exata. Aquela alegria, aquela segurança inabalável, aquele jeito de Isabel de sempre tocar a vida para frente  não importando o que acontecesse. Ela que sempre me tirava das piores depressões, dos maiores momentos de solidão e vazio, ali, desabando na minha frente. E eu queria mais que tudo poder tirar aquela dor de dentro dela.
-Tem certeza de que ela esta morta? De que não há jeito de salva-la? De repente se nós chamássemos a ambulância...
Isabel levantou a cabeça sem forças.
- Acho que é o que temos que fazer.
A ambulância demorou para chegar. Em tempos de carnaval, parece que tudo para. Inclusive os hospitais. Ficamos vendo o corpo de Cecília já sem vida ser levado. Em alguns sonhos eu me imaginava encontrando Cecília novamente. Pensava em onde ela poderia estar, lembrando dela descendo as escadas naquela melancolia poética.
Olhei para os olhos bem feitos de Isabel, pareciam perdidos. Seguimos para o hospital esperando uma notícia, uma confirmação. Sabíamos que não teria jeito, mas ainda assim nos abraçávamos em um fio de esperança.
Como eu já esperava, nos disseram que Cecília estava morta e que teríamos uma série de coisas para resolver. Estávamos perdidos.Eu não fazia a menor idéia de como proceder e Isabel muito menos, fantasiada de colombina e chorando sem parar.
O hospital comunicou que nada poderia fazer por nós. Como a morte não havia sido natural, teríamos que chamar a polícia.
Boletim de ocorrência, autópsia, IML, enterro. O processo quase interminável nos exigia praticidade e uma dose imensa de realidade, da qual não queríamos provar. Sem dormir, sem pensar, sem querer crer no que nos acontecia, Isabel e eu enfrentamos uma maratona de burocracias e problemas, tentando lutar contra nossos corpos que pediam por tranquilidade, colo e calor.
Feito tudo o que nos cabia, exaustos, sugados até as últimas forças, encostamos na porta do carro, sem saber que direção tomar.
- O que você quer fazer agora?
Estava disposto a realizar qualquer vontade dela.
- Quero ir para casa.
- Para a sua casa?
- Não. Para a casa dos meus pais.
- Não te fará mal?
- Quero ir para casa.
Respondeu mais forte e foi o suficiente.
Entramos no carro e seguimos em silêncio. Isabel olhava para a janela e eu ficava tentando desvendar o seu olhar, seus pensamentos. Não sabia com que forças ainda dirigia, que razão ainda me controlava. Quando finalmente chegamos, Isabel saiu depressa do carro, tinha pressa de entrar, enquanto eu coordenava lentamente os meus movimentos.
Abri a porta para Isabel.
Eu tinha medo do que encontraria pela frente. A casa estava fechada desde que Tia Inês havia voltado para Arraial do cabo, onde morávamos ainda muito pequenos. Eu tinha medo de entrar. Era como entrar de novo na minha infância e adolescência, na minha vida inteira que tinha ficado para trás. Eu sabia que Isabel se sentia da mesma forma. Mas diferente de mim, era destemida, ia à frente, como se estivesse pronta para qualquer coisa e para sentir qualquer emoção que fosse, mesmo sabendo que não aguentaria mais muitas coisas por hoje.
O primeiro andar era a garagem, onde ficavam toda as coisas que não tinham lugar no resto da casa. Varas de pescar, brinquedos antigos, velhos quadros.
A primeira coisa que vimos foi a casinha do cachorro, o bom Bóris. Isabel ganhou Bóris no seu aniversário de sete anos. Eu ainda me lembro da sua expressão se surpresa ao ver o cachorrinho com um laço vermelho.Toda a felicidade transparecendo. Bóris morreu faz anos, foi um bom cachorro. Uma morte sem choro, Isabel sabia que o companheiro precisava ir.
O que mais me impressionava em Isabel era o seu poder de compreensão. Ela realmente se conformava  quando as coisas seguiam seu curso natural. E talvez por isso, estivesse tão inconsolável agora.
Subimos a escada que dava para a sala, continuava exatamente como da última vez que a vimos. A estante de livros, o sofá, o tecido preso ao teto, os livros de fotografia em cima da mesa, os quadros, os enfeites trazidos das viagens, tudo exatamente no mesmo lugar, como se tivesse parado no tempo.
De novo me veio aquela carga de adrenalina. Era como viver tudo outra vez.
- Téo...
A voz de Isabel era fraquinha.
- Está sentindo o que eu estou sentindo?
- Estou sim, Bel.
Segurei a mão dela, enconstei-a em meu peito, para que ela pudesse sentir meus batimentos cardíacos. Ela me abraçou forte(não tão forte como da última vez).
Sussurrou em meu ouvido com uma voz doce e suave.
- Obrigada por estar aqui.
Beijei sua testa. Mesmo tão triste e tão transtornada, com a fantasia torta e um resto de maquiagem borrada, Isabel conseguia ser linda demais. E talvez por essa tristeza toda, estivesse incrivelmente parecida com Cecília.
Isabel se deitou no sofá e eu logo em seguida, sentindo a espuma afundar. Tinha me esquecido durante anos a sensação de deitar naquele sofá. A casa tinha o mesmo ar de novidade muitos anos depois.
- Téo, será que podemos ficar aqui uns dias? Esquecendo de nossas rotinas, deixando para lá a vida que vivemos agora e ficarmos juntos aqui, como fazíamos enquanto ainda éramos crianças e não tínhamos essas preocupações?
Os olhos de Isabel me suplicaram e eu seria incapaz de lhe negar qualquer favor. Fosse o que fosse, eu estaria ao seu lado.
- Podemos, se é o que você quer.
Segurei sua mãozinha pequenina, delicada e branca.
- Téo...
Deixou a voz ecoar pela sala.
- Lembra quando meu pai morreu e eu te perguntei se mistérios como a morte ficavam menores quando a gente crescia?
Consenti com a cabeça. Eu, à propósito, pensava nisso naquele exato instante.
- Sabe Téo, ficam maiores ainda quando perdemos a inocência.
Um silêncio invadiu a sala e eu ainda segurando a mão dela.
- Bel, se você nunca se sentiu bem aqui, por que voltar para cá logo agora?
Respirou fundo como daquelas vezes na calçada.
- Eu estava errada, Téo. Eu sonhava tanto com a vida fora dessa retoma, fora da barreira que criamos dentro dos limites dessa casa, imaginava tudo diferente. Hoje vejo que o que eu achei que era uma prisão, é na verdade ,um refúgio.
- E vai ficar bem aqui, perto de todas essas lembranças?
Perguntava como se minha preocupação fosse apenas com ela, mas por dentro, eu mesmo era quem estava com medo.
- A casa vai nos ajudar nesse momento. Essas lembranças são nossas vivências, vão nos lembrar dos nossos sonhos. Como tínhamos sonhos, Téo! Essa casa vai nos ajudar a sermos felizes outra vez, como fomos aqui. Você se lembra?
Eu me lembrava. Me lembrava muito bem de todos os momentos passados e de como éramos felizes entre as paredes daquela casa. Era como se nunca tivesse um fim, fosse sempre uma aventura.
Isabel deitou no meu colo e apoiou no  encosto do sofá seus pés, em meias listradas.
- Entende que essa casa é mágica? Aqui podemos ter a idade, a lembrança, o dia que quisemos. Está tudo aqui. Nossa vida, Téo. Protegida nessa casa.
Fiquei passando meus dedos entre os cabelos ondulados e macios de Isabel e admirando o jeito encantador que ela manteve ao longo dos anos.
- Sabe do que eu tenho vontade agora?
Os olhos de Isabel brilharam de um jeito especial, de um jeito de criança.
- Que tal se fossemos arrancar amoras no jardim para fazer geleia, como fazíamos?
Eu só queria deitar e dormir, pensar no que tinha acontecido. Ainda era tudo muito confuso e Isabel sempre me surpreendia com suas vontades.
- Téo, eu escolho agora ter nove anos e passear pelo jardim colhendo amoras e manchando as roupas.
Se levantou de pressa, ainda trajando a fantasia e se dirigiu ao jardim com a antiga cesta de colher amoras na mão. Eu achava muito cedo para brincadeiras. Ela falava sério?
- Me acompanha?
Piscou o olho em convite.
Perco a resistência, desisto de minhas opniões, sucumbo à todas as vontades de Isabel.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Introdução e orientação

Queridos leitores,
Antes de mais nada, algumas explicações e orientações.
A história que vai "morar" aqui, será postada em capítulos, que serão numerados.
A história sofreu apenas a minha pobre revisão, e aviso logo, que sou desatenta e meus conhecimentos gramaticais são fracos. Então, peço desculpas prévias por qualquer erro e sou receptiva à correções.
Essa maneira alternativa de divulgação é fruto do meu enorme desejo de contar essa história, que eu tracei com tanto amor.
Mas conto com ajuda. Tirar a história da gaveta para virar um livro virtual, só tem sentido se não virar um depósito virtual de palavras. Transformemos esse blog na casa de Isabel, e convidemos todos para conhece-la também.
Antes de qualquer coisa, é uma história sobre sentimentos. Peço que abram o coração para vive-la.

Muito obrigada,
Clara.